Doomsday!!!

A indústria de TI adora ser alarmista. Isso fica ainda mais explícito quando algum executivo de alguma das grandes resolve dar opiniões sobre o futuro. Há exatos três anos atrás um executivo do Google previu que os desktops seriam irrelevantes, e, pasmem, sugeriu aos desenvolvedores ignorá-lo, focando apenas em tablets e celulares. Você lê a matéria toda aqui. Segundo a revista o executivo previa em 2010, que em 2013 “os computadores de mesa (…) ficariam restritos a nichos como gamers ou editores de imagens, vídeos e outros arquivos pesados.”. Será?

Parei para fazer uma análise: tornou-se o desktop irrelevante? Vamos ver:

  • As empresas seguem usando Word, Excel, Powerpoint e como nunca. O Outlook continua dominando como sistema de correio corporativo.
  • Ninguém abandonou o Photoshop ou o CorelDraw.
  • Autocad continua mandando muito bem com engenheiros, arquitetos e designers.
  • Visual Studio e Eclipse não foram substituídos por versões web como o Cloud9 e isso parece muito longe de acontecer, se acontecer. VIM, editor com mais de 30 anos na origem, segue forte entre usuários de Linux e Unix.
  • Tablets não substituiram os PCs, ainda que tenham ganhado uma parte maior do mercado.
  • O Surface Pro surgiu como um bicho novo, que é um tablet que pode ser usado como notebook. Outros computadores semelhantes, e que competem em pé de igualdade com o Surface, pipocam pra todos os lados de grandes fabricantes.

O executivo ainda erra feio ao prever o crescimento dos netbooks, que praticamente morreram. O mercado hoje espera notebooks baratos, e não quer mais saber de netbooks (algo que tem colocado os fabricantes numa sinuca, já que eles querem vender notebooks poderosos, cheios de sensores, com touch, etc, e as pessoas ainda focam muito em preço).

E o que aconteceria se você, desenvolvedor, tivesse seguido aquele conselho? Teria deixado passar a onda de novidades que seguem aparecendo, como as oportunidades de trabalhar com apps de Windows 8, que atendem Tablets, Notebooks e Desktops. Teria ignorado a opção de desenvolver apps pra Office. Teria diminuído suas chances de participar do mercado livre e independente, ou de contribuir pra empresa que trabalha.

Aqui na Lambda3, posso dizer que estamos trabalhando nesse momento em uma Aplicação desktop, feita em WPF ao estilo Metro (ops, moderno). O cliente espera uma aplicação desktop. Não é o único projeto do tipo. Temos apps pra Windows 8 também. E se tivéssemos ouvido o executivo do Google?

Cuidado com previsões alarmistas! Principalmente quando vem de empresas que querem muito que elas aconteçam. Parece que o executivo estava buscando o que em inglês se chama de self fulfilling prophecy.

Giovanni Bassi

Arquiteto e desenvolvedor, agilista, escalador, provocador. É fundador e CSA da Lambda3. Programa porque gosta. Acredita que pessoas autogerenciadas funcionam melhor e por acreditar que heterarquia é mais eficiente que hierarquia. Foi reconhecido Microsoft MVP há mais de dez anos, dos mais de vinte que atua no mercado. Já palestrou sobre .NET, Rust, microsserviços, JavaScript, TypeScript, Ruby, Node.js, Frontend e Backend, Agile, etc, no Brasil, e no exterior. Liderou grupos de usuários em assuntos como arquitetura de software, Docker, e .NET.